A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach
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sexta-feira, 22 de março de 2019

A aula de Pace. Conta Cuca

Pace e Marivaldo 

Era uma sexta normal, eu estava na casa dos meus irmãos em São Paulo. Acordei, e fui tomar um café, liguei o radio, pois eles não tinham televisão, exatamente no minuto em que o locutor falou que, José Carlos Pace, havia sofrido um acidente de avião, e não sobrevivera...Com ele, havia morrido Marivaldo Fernades, dono e piloto do avião. Fiquei estático, o pão, parou na minha garganta. Como assim? Meus heróis não morriam, ainda mais num teco-teco.. A noticia estava errada, ele fizeram um pouso forçado na mata, mas estavam bem. Era isso que tinha que ser, nada mais que isso...
               Infelizmente não foi assim.. . Na realidade, foi um dia muito triste, pois passei  o dia todo sozinho, e querendo entender os  desígnios de Deus...
               Não tive a felicidade e a honra de conhecer o "Moco", mas tenho algumas historias em que eu estava bem do lado dele. Lembrem-se, eu era ma criança, fanática por automobilismo. Então, qualquer contato com os meus ídolos foram importantes para mim.

F2...

               Os primeiros contatos que tive com ele, foram muito rápidos, eu sentado nas arquibancadas, e ele passando num F2 a 250km/h na minha frente.  Da para imaginar o como foi rápido. Mas, foi a primeira vez que eu o vi pilotar, assim como vi o Emerson, Wilsinho, Schenken, Hailwood , Hill, Peterson, e tantos outros que estavam naquele Torneiro Internacional de Formula 2. Ali, eu acho que os brasileiros viram o que os formulas andavam.
Teve uma ano, que o Moco corria na March F1, e meu irmão, Marco Souto Maior, que era jornalista automobilístico,  me levava para os  treinos, eu ficava na arquibancada, e ele ia fazer a cobertura nos box...Lembro-me, que ele chegou para o Pace e perguntou:
  -E ai Moco, como esta o carro? Moco respondeu:
-Que carro? Essa porra não anda...
Meu irmão riu, mas viu que não era hora para piadas...
No ano seguinte, já na Surtees, muito mais animado, meu irmão arriscou e fez a mesma pergunta. Mais calmo,  Pace respondeu...
-O carro só não anda mais por falta de dinheiro...
O tempo passou, e demorou para eu ver o Moco novamente, mas, quando aconteceu, foi simplesmente especial...
 Estávamos em Interlagos, em mais uma aula do "Curso Marazzi de Pilotagem". Eu, quando podia, matava as aulas e ia para Interlagos com o meu irmão, que era aluno do Expedito,  e esse, foi um desses dias.
Os alunos estavam não andando muito, então, o Expedito chamou todos pra os boxes, para um "esporro" coletivo. Todos os carros estavam nos box, a pista livre. Marazzi falando com os alunos, e eu atrás dele, quando vi um carro chegando. O Expedito estava tão puto, que nem percebeu. O carro parou atrás de mim, olhei para a janela, o vidro baixou devagar e surge o Moco, era o cara, ali, na minha frente, num belíssimo Passat Dacon prata...
-Fala professor...
-Moco... Tudo bem?
-Tudo, posso dar umas voltas ai? Perguntou o Pace...
Expedito, se curvou, e com os dois braços disse...
-Por favor, mas anda rápido, tá?
O Moco olhou sorriu e disse:
-Deixa comigo...
E saiu acelerado...
O Marazzi virou para os alunos e disse:
-Vamos para grade do "Laranja", pois agora, vocês vão ver o que é pilotar...
Corremos todos para o "laranja", e ficamos babando de como o cara era rápido.
Moco deu três voltas inteiras e parou na quarta. O interessante, é que a maioria dos alunos, não perceberam quem estava pilotando o Passat...
No final da quarta volta, o Moco passou pelos boxes, deu um meia parada, o Expedido chegou na janela do carro, falaram por trinta segundos, e o Passat saiu acelerando forte.
Logo depois, o Marazzi reuniu os alunos e deu a noticia para aqueles que não sabiam quem era o cara do Passat... Neguinho babou.. Eu babo até hoje quando lembro daquelas três voltas. Tempos depois, estive perto do Pace, no teste do Copersucar FD01, onde, o Emerson testou o carro. Sempre calmo, solícito. Gostaria de ter melhor oportunidade de conhecê-lo, não tive, mas sou feliz por ter  visto ele correr e dar aula de pilotagem.

Pace, Niki...popuco antes do acidente do austríaco.

Para terminar, um repórter, perguntou ao Bernie, se o Lauda tinha sido o melhor piloto da Brabham?  Ele respondeu:
-Se eu tivesse o Carlos (assim ele chamava o Pace), nunca ia precisar do Niki..
Sem desmerecer o Niki, e nenhum outro piloto, pra mim, o Pace tinha pilotagem mais refinada de todos os brasileiros, era um mistura de Nelson Piquet, com Emerson...
Grato José Carlos Pace, o seu Mocô, por todas as emoções que você me fez sentir...



Mario Marcio “Cuca” Souto Maior

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"Rui, quero escrever um texto sobre o Pace...."
"Manda ver Cuca!"
Gostaria de colocar mais algumas fotos neste delicioso texto do Cuca, mas o tempo anda curto, me desculpem.
Agora pode até parecer pretensão masssss...acredito que caso nosso amigo Expedito não tivesse partido antes da hora, certamente gostaria do que escrevemos e postamos neste bloguinho!

Aos que nos deixaram antes da hora.

Rui Amaral Jr

NT: Alguns "historiadores" que vêm ao História "pesquisar" peço que ao copiar algum textos e publicarem, não precisam fazer qualquer referencia ao blog, mas deem os devidos créditos aos autores.


sexta-feira, 21 de julho de 2017

Conta Cuca...


Mil Milhas 1973


O autorama, era o brinquedo de todas as noites na casa do meu amigo Wlimar Foschi Filho, o Bilu. Eu fazia os carrinhos, com o patrocínio dele. Tínhamos uma equipe com os quatro carros da Autozoom, o #29, #90, #61 e o horroroso Manta roxo do Cabeção, além dos formulas 1. Era, e é uma casa na rua Pio Xi de três andares, sendo um porão, onde ficava montada a nossa pista.
Alfredo Guaraná namorava a Ligia, irmã do Bilu, e todas as noites queria ver os carrinhos e brincava com a gente em altos pegas, posso dizer que já dei uns paus no Guaraná, ao menos no autorama ele não me ganhava.
Estávamos Bilú e eu brincando com os nossos carrinhos, quando ouvimos um ronco forte de motor acelerando na frente da sua casa, segundos depois, um silêncio. Bilú olhou para mim, e balançou a cabeça negativamente, como se não fosse nada importante. Na época, ronco de motor de fusca era coisa normal. Foi quando ouvimos a voz da Ligia:
-Bilú, corre aqui...Saímos correndo pela entrada lateral da casa, e lá estava ele, Um fusca conversível branco, com o Robertinho da Autozoom no volante, com um sorriso enorme em baixo do bigodes.
-É o motor do carro do Guaraná, estou amaciando. Ele estáai?
Perguntou Robertinho...
-Não, ainda não chegou...
Respondeu a Ligia...
Ele não desligou o carro. Simpático, desceu, deu um abraço na Ligia, um oi para nós e disse:
-Fala para o Guaraná, que eu vou para a marginal de Pinheiros dar uma acelerada nesse motor, espero ele na frente do portão 3 em Interlagos...
Deu tchau a todos, entrou no fusca e saiu acelerando...
O ronco era forte. Ficamos os três na frente da casa calados só ouvindo o carro se afastar.
Bilú e eu, voltamos ao porão, e dez minutos depois, chega o Guaraná. Ele entrou pela lateral da casa e foi direto ao porão.
-Oi, tudo bem?
Era sempre um susto quando o Guaraná chegava, afinal, ele era e é um ídolo para mim. Indagou Guaraná.
Me apressei e disse:
-O Robertinho passou aqui, disse que esta te esperando na frente do portão 3...
-Como assim?
Indagou Guaraná.
-É, ele passou aqui com um fusca conversível e disse que ia andar na marginal para amaciar motor do seu carro.
Disse o Bilú.
O Guaraná não ficou surpreso, só soltou um “que doido”. Ligia chegou ao porão. Guaraná a abraçou já falando:
-Vamos para Interlagos?
Vamos...
Respondeu ela...
-Vamos lá garotada...
Convidou Guaraná.
Eu, fiquei triste, pois tinha que ir para casa, já se passavada 21 horas, o limite do meu pai era 22 horas.
Disse que não poderia ir, pois tinha que ir embora.
-Calma, eu te levo em casa e falo com o seu pai, pode ser?
Disse ele...
Claro que podia. Mas no caminho, num percurso rápido no Dodge 1800 laranja eu desisti. Eu sabia que mesmo ele falando com meu pai, ele não deixaria eu ir. Então, agradeci, e, quando ele parou na porta da minha casa, me fez uma grata surpresa. Abriu o porta luvas, e me deu uma credencial de box para a corrida.
-Quero você me ajudando na corrida...
Deu thau, e saiu acelerando pela Ibiraçu abaixo.
Fiquei parado com a credencial na mão.
Claro, fui a corrida com o Bilú, e a história dela, todos sabem. Foi uma aula de pilotagem do Guaraná. Sempre o meu ídolo.




Mario Marcio "Cuca" Souto Maior.

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Não custa lembrar novamente: Conheço o Cuca desde 1972, quando eu trabalhava com meu amigo Expedito Marazzi e ele e o Gabriel, filho do Expedito, que eram cerca de cinco ou seis anos mais novos que eu viviam na Escolinha.
Os textos dele para o Histórias já foram copiados por outros blogs e até o Wilsinho Fittipaldi já pediu autorização para divulgar uma de suas deliciosas histórias de Rato de Box.

À vocês Anete e Cuca meu fraterno abraço e obrigado pelo carinho e por esta amizade tão longa.

Rui Amaral Jr 

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Equipe Marazzi Amaral.

Talvez seja este VW que vai à frente que o Expedito e eu transformamos no D3.
Num destes experimentamos as belas rodas Scorro com os Pirelli Corsa...
Está complicado ver, mas nesta foto estou no D3 que fizemos correndo a Copa Brasil de 1972...

Devia ser 1974, Expedito tinha um posto de gasolina da Shell, na rua Heitor Penteado, 1720 no Sumarezinho. Um dos boxes do posto, estava com o elevador quebrado, era um daqueles elevadores enormes movido a ar comprimido, ali, Expedito acabou fazendo uma pequena oficina, onde guardava o “Fumacinha”, seu formula Brasil e uma tralhas que antes ficavam na garagem da sua casa.
Foi nesse posto que conheci o Rui Amaral. Nessa época, ele havia se associado com o Expedito para montar a equipe Marazzi-Amaral de divisão 3. Logo, um Fusca 1963 foi comprado, era um carro de cor verde claro e a transformação começou. Logico, Gabriel e eu não perdíamos uma oportunidade de ir ao posto ver o andamento da construção do bólido. Um mecânico, de apelido “Alemão” foi contratado. Com o tempo, o carro foi sendo modificado, um radiador de óleo foi instalado dentro do porta malas a meia altura, junto com uma entrada de ar de alumínio, ficou bonito. O primeiro problema foi a instalação do tanque de gasolina de 60 litros, ele não entrava, só caberia num Fusca 1964, que tinha uma maior capacidade. Expedito lamentou, pois em corridas longas, o carro teria que parar mais vezes, então, sugeri que se cortasse a carroceria, seria a solução, mas, como não tinham, a curto prazo, a intenção de correr longas provas, o tanque pequeno ficou, depois resolveriam o problema com mais calma.
O motor foi montado e, na primeira vez que foi ligado, lógico que eu estava lá. Era uma noite de chuva fina e frio, típica de São Paulo daquela época. Logo um problema apareceu. Eu, na época, não entendi o que estava acontecendo, mas pelo que lembro, saía umas chamas pequenas em algum lugar por baixo do motor ou algo assim. Expedito foi chamado, viu o problema, mas também não entendeu o que estava acontecendo, então, resolveu chamar o seu sogro, um mecânico de mão cheia. Rui disse que ia sair e consultar um amigo de apelido “Violão”, e eu, logico fui com ele e o Alemão até a casa do tal consultor. Me lembro que a casa do cara ficava ali perto, numa ladeira bem radical. O Violão tinha um Fusca de cor “café com leite”, mas um DoubleWindows todo mexido, lindo carro. A oficina dele era típica de quem tem paixão por carros, cheia de peças e muitas ferramentas. Os três se reuniram para achar o problema, eu, ficava por perto só ouvindo. Violão achou melhor ir ao posto para ver o qual era o problema.Já no posto, nova reunião e depois de um tempo, chegaram à conclusão que era alguma coisa com óleo subindo para o cabeçote ou algo assim, realmente nunca fiquei sabendo o que realmente aconteceu. Logo depois, meu irmão chegou, ficou por cinco minutos e me levou embora sob meus intensos protestos.
Dias depois, numa tarde fui com o Expedito e Gabriel para o posto pois as rodas e os pneus haviam chegado. Quando viu as caixas das rodas, Marazzi parecia criança em noite de Natal que acabou de ganhar seu primeiro autorama. Abriu as caixas rapidamente, chamou um funcionário do posto e pediu que ele montasse os pneus nas rodas, ordem logo frustrada pelo Rui.
-Calma Marazzi, isso não pode ser assim. Vou mandar montar e balancear.
Expedito imitando uma criança, fingia choramingar e repetia sem parar...
-Mas eu quero, eu quero...
Porem, prevaleceu o bom senso do Rui.
                Dois dias depois, as rodas estavam montadas e balanceadas, mais uma vez, fui para o posto. Expedito chegou logo depois, e novamente virou uma criança. Chamou o mesmo funcionário e pediu para que ele colocasse as rodas no fusca, e novamente foi contrariado pelo Rui.
-Expedito, não vai caber, a carroceria não está pronta, vai raspar nos para-lamas...não dá... deixa as rodas quietas...
-Mas precisamos saber se realmente estão balanceadas...
Foi a desculpa do Marazzi, que realmente era uma criança nessas horas. Talvez, só para satisfazer o Expedito, Rui autorizou a monta-las no Fumacinha. Pronto, festa no box do posto...
-Ebaaaa....Vamos, vamos, vamos montar... anda, anda, anda...Pega a chave de rodas... Vamos, vamos... vamos montar...
E assim, o jogo foi montado no Fumacinha. Ficou lindo o “formulinha” com aqueles pneus enormes. Logico, sobre a desculpas de ver se estavam balanceados, lá foi o Expedito para a rua com o Fumacinha... Era hilário ver aquele carrinho andando na Heitor Penteado ao lado daqueles CMTC enormes. Todo mundo olhava num misto de surpresa e alegria. Rui também tentou andar com o carro, mas devido a sua estatura, ele mal entrava no formula. Acho que nem saiu do lugar, ou deu uma volta dentro do posto e desistiu.
                O carro foi para funilaria e pintura. Foi pintado de amarelo e azul com o mesmo layout dos carros do curso de pilotagem, igual ao da foto. Na época, ainda não se alargavam os para-lamas, foi colocado uma aba que rodeava o carro servido para cobrir os largos pneus e na frente como spoiler.  Ficou bonito. No interior, quatro bancos, um parecido com bancos de kart para o piloto e os outros três, eram aquelas cadeiras de plástico, muito comum nas lanchonetes da época. Acho que era uma estupida exigência do regulamento, me lembro que o #29 do Guaraná também tinha. Alguns relógios extras no painel pouco modificado, Santo Antônio e extintor, atrás, no chiqueirinho, o reservatório de óleo.
                Não fui no primeiro teste, mas o Gabriel foi e me contou uma história inusitada. O Alemão foi dirigindo o carro, Gabriel ao seu lado no banco de lanchonete. Rui naturalmente, estava em outro carro com o Expedito. Quando trafegavam pela marginal de Pinheiros, Gabriel vê um pneu passando pelo carro:
-Ih, olha uma roda...
Alemão olha e responde...
-É...
O carro anda mais alguns metros e “buummm”... A traseira arreia...
-É, acho que era a nossa roda...
Completa o Alemão.
A roda foi para longe, e os dois ficaram esperando o Rui ir buscar, dar toda a volta para recoloca-la e prosseguirem.
Não me lembro como foi o teste, claro que devo ter feito mil perguntas, mas realmente não me recordo de nada.
                Num sábado, estava em casa quando ouvi o ronco do D3 chegando, meu pai, eu e meu irmão Beto fomos para a rua. Era o dia da estreia do bólido. O carro estava parado em frente à casa do Expedito, Rui dirigia e Alemão ao seu lado. Expedito saiu de casa carregando umas três latas de aditivos, Winner, STP e Molykote. Explicou onde era para colocar os óleos, Alemão indagou que precisaria de mais óleo para o motor. Marazzi mandou que ele pegasse no posto. Assim, Rui deixou rolar o carro, fez o contorno na entrada da rua Florália e subiu a Ibiraçu acelerando. Ficamos olhando os movimentos do carro parados no meio da rua, quando ele entrou na Cerro Cora e sumiu, meu pai comentou:
-Está bonito o carro.
Marazzi respondeu:
, está bonito, vamos ver se anda.
Foi a última vez que vi o carro.
Não sei como foi a sua estreia, e sei que logo depois a equipe acabou por algum motivo que só o Rui pode esclarecer, mas não faz a mínima diferença. Foi bem legal acompanhar a construção desse lindo carrinho. Pena que não há fotos dele. Quem sabe, agora apareça alguma.
Um forte e veloz abraço a todos.

Mario Marcio "Cuca" Souto Maior

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Algumas considerações; a ano foi 1972, as rodas o Expedito e eu compramos na Scorro do Marco Grilli, eram de 10 pol de largura, os pneus fomos buscar na Pirelli e eram os Pirelli Corça de competição que logo ficaram obsoletos com a chegada dos slick, com este carro  corri a Copa Brasil de 1972 depois parei e voltei às pistas anos depois...
Ainda ontem no cockteil do lançamento dos 500 KM de São Paulo o Gabriel e eu falávamos de seu pai e do Cuca quando alguém ao nosso lado disse ser fã do Expedito o mesmo que alguém escreveu ontem em um post meu...Gabriel lembrou que seu pai morreu aos 53 e para as lágrimas não descerem comentei em como o Cuca e ele que são sete anos mais novos que eu me perturbavam nesta época!
Expedito era 15 anos mais velho que eu, e descaradamente o chamava de Velho, e a descrição do Cuca mostra perfeitamente seu espirito! 
Hoje abro o texto do Cuca e ele conta justamente daquela época tão boa, obrigado Cuca pelo carinho deste tão gostoso texto!
Dedico estas pequenas considerações aos queridos amigos de uma vida Cuca e Gabriel e à memoria do Expedito, sempre lembrado em nossos papos, de quem fui fã e tive o privilégio de ser amigo!

Rui Amaral Jr 

   



segunda-feira, 8 de abril de 2013

Pio, Pio, Pio...


Meu saudoso pai, Wilson Souto Maior, conheceu o Expedito na Mercedes-Benz em São Bernardo dos Campos, éramos vizinhos, e ai nasceu a nossa amizade.
O serviço deles, incluía viajar e visitar diversas concessionárias, a grande maioria no sul do pais. Essas viagens eram feitas num fusquinha “pé de boi” da Mercedes sempre pelos dois, mas, houve uma única vez, em que um piloto de teste chamado Celso Graminha foi junto não sei porque razão.
Meu pai já estava acostumado a andar com o Marazzi e sabia do que ele era capaz de fazer com um simples fusquinha, e segundo ele, o Celso era um excelente piloto de testes.
A certa altura da viagem, o Celso pela primeira vez pegou o carro. Meu pai, um grande “barbeiro seguro” segundo o Marazzi, nunca dirigia. Expedito foi meio que deitado e entediado no banco de traz, meu pai, lógico no carona. No meio de uma serra, Expedito quase que dormindo disse:

-Tá lento...

O Celso olhando pelo espelho retrovisor perguntou em tom de brincadeira:

-Você faz melhor ?

-Mais rápido e melhor.

O Celso parou o carro imediatamente abrindo a porta e descendo do carro.

-Então vem e faz.

Meu pai meio que rindo sem graça disse:

-Não faz isso não Celso...

Expedito foi para o volante e o Celso para o banco traseiro.

Bom, da para imaginar o que o Marazzi fez com o carro.

Depois de uns cinco minutos, o Celso Graminha começou a pia sem parar.

-Pio, pio, pio, pio...

Meu pai irritado perguntou:

-Tá piando porque ?

-Bom “seu” Wilson, já ouvi falar de tanta gente que morre sem dar um pio que estou dando todos os que posso.

Claro, todos caíram na gargalhada, e jamais um piloto experiente como o Celso ficaria com medo do que o Expedito estava fazendo. Mas segundo meu pai, a coisa era muito assustadora, e, só quem conhecia e já andava há muito com o Expedito ficava tranqüilo.

Meu pai; o velho “Seu” Souto, contava esta historia sempre, as vezes na frente do Expedito que ria a valer, ao que meu velho sempre dizia:

-Você tá rindo, pois não era você que estava no banco do carona segurando no PQP.

Mario Cuca

Podium de Turismo 5.000 Expedito de macacão azul, em 1º Ney Faustini e de macacão branco e azul João Lindau.
#88 Expedito em Jacarepaguá...


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

SEMPRE CAMPEÃO





Hoje não  ia postar nada, até por que espero um texto do Caranguejo, sim senhores, pois quando ele escreve  todo trabalho de postagem fica para esse modesto contador de histórias. Daí...fui até o Imagens Da Luz ver se achava alguma foto minha, e me deparei com essas preciosidades, nosso sempre Campeão testando um carro da Fittipaldi, não tenho ideia de qual modelo, alguém poderia me informar, talvez o Cuca!
Bem, já provoquei demais o Caranguejo e também o Cuca, no caso do último apenas para descontar o tempo em que ele e o Gabriel ficavam perturbando em nossa oficina e box.
Outra coisinha que notei, no radiador esquerdo a fita segura os famosos barbantinhos que mostravam a condição que o ar passava naquele local, para uma possível modificação.

Aqui o Cuca conta tudo.
  

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Conta Cuca!




“Em 1972, a Estrela lançou o Campeonato Nacional de Autorama Emerson Fittipaldi: o vencedor passaria um dia inteiro com Emerson Fittipaldi, um sonho para qualquer garoto da época. Gabriel e eu logicamente nos escrevemos, iríamos correr com os nossos Brabham BT34 que havíamos acabado de comprar e, segundo especialistas, “voavam baixo”.
As corridas eram sempre aos domingos pela manhã na pista do Ibirapuera, em um total de quatro corridas. Passávamos as noites de sábado desmontando, regulando e pintando os carros que eram sempre destaques nas corridas pela beleza, conservação e desempenho, pena que os dois pilotos ficavam nervosos e não iam bem nas provas. Os melhores resultados foram um terceiro do Gabriel e um quarto meu. Por idéia do Expedito, sempre corríamos em baterias separadas para não fazermos concorrência um ao outro, já que somente o primeiro lugar se classificava para as semifinais.
Expedito sempre nos levava para a pista nos dias de competição no seu lindo Dodge Dart preto. No caminho mostrávamos os carros a ele, que sempre participava com enorme entusiasmo. Num desses domingos, porém, ele nos levou num lindo Maverick LDO que ele estava testando para Revista Quatro Rodas. Era um belo carro de cor champanhe, novinho. Chovia muito aquele dia e, quando chegamos ao Ibirapuera, Expedito, não querendo pegar chuva, resolveu “estacionar” o carro o mais próximo possível da pista. Só que a manobra incluía descer um escada de uns quinze degraus.
– Será que eu consigo? Pergunta Expedito.
– Vai raspar o fundo. Diz Gabriel.
– Ops, ops, ooo...
Dum, dum, dum, dum...
– Foi, viu, viu, viu? Não raspou nada.
Comemora Marazzi.
– Mas como vamos sair daqui?
Questiona Expedito coçando a cabeça e rindo como um garoto que fez uma travessura.
– Bom, depois eu penso nisso.
E fomos para a pista levar outro “esfrega” da garotada.
Na hora de sair, ele colocou o carro meio de lado em frente da escada e acelerou fundo, o carro cantou os pneus de um pulo e subiu fácil, sob olhares incrédulos de diversos pais que deviam esta se perguntando “Quem era aquele louco que fazia aquilo com um carrão daqueles?”.
Coisas de Marazzi”

Mario Marcio Souto Maior - Cuca 


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O FUSQUINHA BOY .


Hoje vou contar uma historia, de tantas que aconteceram, do Expedito Marazzi, com quem tive a honra, o prazer e o privilegio de conviver na minha infância e adolescência. Faço isso com a permissão e as gargalhadas do seu filho Gabriel Marazzi, a quem mandei há anos este texto.
Para quem não conheceu o Expedito, ele tinha uma alma e um coração de criança. Era calmo, mas com um gênio que explodia de uma hora para outra e ele ficava extremamente nervoso, principalmente no trânsito. 
O que mais me impressionava nele, era a extrema facilidade com que ele controlava os carros nas situações mais adversas.
Uma história engraçada, mas nem um pouco recomendada, aconteceu numa noite em que ele e eu fomos até o posto de gasolina que ele possuía na Av. Heitor Penteado. O posto já estava fechado, fechava cedo na época, apenas o gerente estava lá para conferir o caixa com Expedito. Devia ser um domingo ou sábado, pois as ruas estavam vazias. Nós estávamos no Dodge Dart preto que ele tinha e paramos no sinal da Av. Cerro Corá com a Av. Heitor Penteado,  atrás do nosso carro, um "fusquinha de boy" parou e segundos depois disparou uma buzina daquelas de repartir cabelo na nuca. Expedito olhou pelo retrovisor somente levantando o canto do olho e permaneceu quieto, aparentemente sem se alterar. Mais alguns segundos, e nova buzina, desta vez um pouco mais longa. Expedito nem olhou, o sinal ficou amarelo e ele engatou a primeira. Quando o sinal ficou verde, e o fusquinha buzinou pela terceira vez, eu só senti o Dodge rodar sobre o eixo dianteiro num cavalo de pau de 180 graus e ir de encontro ao fusquinha, que nesse momento já tinha um motorista de olhos arregalados e um coração pendurado na boca. A frente do Dodge parou a uns 10 centímetros do pára-choques do fusca, com o giro muito alto e as rodas traseiras girando em falso e fazendo uma fumaça muito grande, porém, o carro não mexia um milímetro para frente, Marazzi enfiou a mão na buzina, colocou a cabeça para fora e começou a gritar "Buzina eu também tenho, buzina eu também tenho, palhaço...", o rapaz do fusca estava estático.
De repente o Dodge saiu em marcha a ré, e, com outro cavalo de pau desta vez jogando a frente, virou e entrou na Av. Heitor Penteado em alta velocidade, entramos pelo posto e novamente outro magnífico cavalo de pau de 360 graus e duas voltas, parando quase que estacionado, Expedito somente engatou a ré e ajeitou melhor o carro. Eu quieto estava, quieto fiquei, ele saiu batendo a porta e foi ter com o gerente do posto que também estava paralisado com as rodadas do Dodge.
Cinco minutos depois ele volta, sorrindo e comentando:
- Viu que sujeito mais idiota ?
 Eu apenas balancei a cabeça concordando e tentando colocar o coração nos batimentos normais. 


Mario Souto-Maior - Cuca

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Nesta história pouco construtiva do Cuca(rs) o amigo que nunca esquecemos. 
Nesta época eu já corria e convivia com o Expedito e por mais inverossímil  que pareça ele era assim mesmo, aprontavámos muito, de moto, carro etc. Saudades do amigo...Valeu Cuca!

Rui Amaral Jr


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O FD01 e a pressão do óleo

Emerson

Depois que escrevi sobre o teste do Emerson com o F6, fiquei lembrando dos teste do Copersucar que eu vi, tinha visto um do FD04, que fiquei na arquibancada e não me lembro o porque, e outro teste muito importante que vi  foi o do FD01. Sim, o Emerson testou o FD01. Aí resolvi procurar uma foto deste teste, pois lembro de ter visto na internet há muito tempo, mas não a encontrei, porem, achei um texto, se não me engano, na GPTOTAL, em que se fala do teste. Achei engraçado, pois tratam o teste como uma coisa secreta, que ninguém podia ver, dizem que o Emerson saiu do banheiro já de macacão e com o capacete do Wilsinho, e, que o Wilsinho ficou escondido para que ninguém o visse e achasse que era ele, e não o Emerson que estava pilotando o carro. Balelas.
Estávamos o quintal da casa o Expedito Marazzi, quando meu irmão mais velho disse que o Emerson ia testar o FD01 naquela tarde. Expedito logo se animou e começou a agitar.
-Vamos...vamos...Entra no carro...vamos ver o Emerson, entra, entra na carro, vamos, vamos...
Quem conheceu o Marazzi sabe exatamente do que estou falando. Assim, entramos no seu Dodge Dart preto (belíssimo) e fomos, Gabriel, Marco, meu irmão mais velho, Edilsinho, um primo que estava de férias na minha casa e eu.
Quando chegamos ao autódromo, entramos pelo antigo portão  3, Expedito era muito conhecido e não tivemos dificuldades para chegar nos box. Porem não havia nada nos box, estavam vazios, Expedito comentou:
-É, acho que enganaram a gente.
Mas alguém viu um movimento grande no meio da reta oposta, assim, Expedito entrou na pista e parou no retão, e estava lá o FD01 parado com um monte de gente ao lado. Descemos e caminhamos até lá. O Emerson estava dentro do carro, e deu um aceno de mão para o Marazzi quando o avistou.
Na verdade, o Emerson ainda estava na McLaren, e pediu uma autorização para fazer um pequeno teste com o FD01 e foi liberado. O teste foi feito somente no miolo, pois, o anel externo esta sendo asfaltado. Mas qualquer menção que foi uma coisa escondida é pura ficção, a única coisa que realmente aconteceu, é que o carro estava sem os logos e a pintura do colibri da Copersucar, e não era prata, era cinza fosco, como Primer, e o Emerson usava um macacão cinza bem clarinho sem nenhum patrocínio, que eu reconheci como sendo o que ele usava na Lotus JPS, de resto tudo normal, usou o capacete dele, foi simpático como sempre quando saiu do carro, e deu um autografo para meu primo Edisinho, assim como o Wilsinho. Devia ter umas cinqüenta pessoas na pista, entre eles, o Môco, com toda a sua simpatia e humildade. Mas em especial, um Porsche branco andava na pista, o que deixou o Wilsinho irritado:
-Quem é este imbecil ? Perguntou.
Meu irmão "dedo-duro" respondeu.
-É o Adú...
WF.
-Só podia ser, quando ele passar aqui novamente, manda ele parar. Disse o Wilsinho para alguém ao seu lado, mas o Adú Celso, não voltou, nem ele, nem o Porsche e muito menos a bela loira que estava com ele...Uma pena.
Quando chegamos, Expedito comentou:
-Nossa, nem parece um teste de F1.
Realmente a coisa estava bem improvisada, com o FD01 parado do lado direito da "Reta Oposta", uma camionete com os equipamentos e ferramentas na caçamba e mais nada.
Depois de um tempo finalmente ligaram o carro e o Emerson foi para a pista, na primeira volta, passou na nossa frente, fazendo um zig-zag como carro falhando muito, Wilsinho balançou a cabeça negativamente. Na segunda ele foi bem mais rápido, na terceira, muito mais rápido, e na quarta ele parou.
O dialogo a seguir, foi traduzido posteriormente , quando voltamos para casa pelo Expedito, pois o Wilsinho falava em português, e o Emerson respondia em inglês, e o meu inglês era e ainda é péssimo. O "Cebolinha" do óleo fica por minha conta.
Wilsinho se sentou no pneu dianteiro esquerdo e falou ao Emerson:
-Esta falhando muito, este problema com o "pescador" esta me dando nos nervos.
EF
-O grande problema não é ele falhar, isso uma hora se resolve, o problema é que a pressão do óleo sobe muito quando se freia.
WF
-Sim, pois a temperatura sobe.
EF
-Não. Quando você volta a acelerar, o motor não responde a altura, para mim, o óleo esta circulando muito devagar.
WF
-É um problema com a posição dos radiadores.
EF
-Não acho, pois a pressão sobe, não a temperatura, acho que o óleo tem que circular mais rápido.
WF
-Como ?
EF
-Não sei, talvez um reservatório maior.
WF
-Sim, para baixar a temperatura.
EF
-O problema não é a temperatura, ela não sobe, o que sobe é a pressão.
Môco estava sentado nos Guard-Rail bem ao lado do Emerson e entra na conversa.
JCP
-Emerson, não estou entendendo nada. Mas estou com o Wilsinho, se a pressão sobe, é porque a temperatura está subindo muito, não ?
EF
-Não...a temperatura não sobe.
WF
-Vamos fazer um teste. Darci, tem outra "cebolinha" do óleo ai ?
D
-Tem...
WF 
-Então troca.
EF
-Pode trocar, mas não é isso...
O Emerson saiu do carro calmamente enquanto o Darci começou a tirar a carenagem do motor com o auxilio de dois mecânicos. 
Meu primo pegou os autógrafos do Wilson e do Emerson, que estavam juntos com o Pace, depois me confidenciou que não reconheceu o Môco, por isso não pegou o seu autografo, erro grave que rendeu uma gozação enorme do Expedito...
Wilson, Pace e Emerson, fizeram uma rodinha e ficaram conversando, eu escutando tudo e não entendendo nada, deu vontade de entrar o meio e gritar:
-Fala em português "carai".
O Expedito deu o "nosso teste" como encerrado, e muito contra a minha vontade fomos embora.
No caminho de volta, ele nos contou o dialogo acima, e disse que concordava com o Wilsinho, que talvez o Emerson estivesse enganado.
O meu conhecimento técnico, não me permite opinar sobre a questão, mas quando um "Emerson", diz o que disse, eu fico com a opinião dele, pois, com o maior respeito que tenho pelo Wilsinho, Pace e pelo Marazzi, acho, que ninguém entendeu realmente o que o Emerson falou, tanto é, que o FD02, foi totalmente descaracterizado, o FD03 nem se fala, se tornou um carro horrível, comum e no final do grid.

Mario Souto-Maior - Cuca

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

RATO NO BOX

Emerson e a F6 em Interlagos.
Texto; Mario Marcio G. Souto Maior - Cuca

Teste do F6...

  Há algum tempo, que o amigo Rui Amaral me pediu para escrever um texto para o Histórias. Talvez tenha se passado alguns meses, talvez um ano, não importa, o fato é que sentei para escrever sobre o meu grande ídolo Emerson Fittipaldi. Poucas pessoas tem o talento nato de pilotar um carro como o Emerson, segundo seu irmão Wilson, que diz que viu poucos pilotos assim, e cita Graham Hill, Ronnie Peterson, Jackie Stewart e Airton Senna, palavras do Wilsinho. Segundo ele, o que o Emerson leva uma volta para entender o comportamento de um carro, ele, Pace ou Piquet, levariam 30 ou 40 voltas. Que fique claro que o Wilsinho não esta falando em pilotagem e sim em sentimento, pois, qualquer um dos que ele citou mesmo não tendo este sentimento, com certeza são excelente pilotos. Por tanto, o que vou relatar, diz exatamente isso, como um cara como o Emerson, desafiou um carro e deu um veredicto final.
Muito se falam sobre o primeiro teste do Copersucar F6, em 8 de janeiro de 1979, bom, eu estava lá, e o que vou relatar, é o que eu vi, e quero deixar bem claro que eu estava ao lado do Wilsinho pois era uma rato de box, e com certeza ele nem sabia quem eu era.

O dia amanheceu bonito, fui para Interlagos sozinho e de ônibus, entrei pelo antigo portão 3, um funcionário me indicou o caminho das arquibancadas, agradeci, e lógico, fui pelo túnel até os boxes. O F6 estava lá, Darci,  Ricardo Divilla e alguns mecânicos mexiam nele. Foi o tempo de eu observar como era belo e bem feito o F6, fiquei orgulhoso de ser brasileiro, como sou até hoje.
Alguns minutos se passaram e Wilsinho e Emerson chegam num BMW branco. Era um BMW cheio de aerofólios, abas e na minha modesta opinião, feio "pra carai", nunca achei aquilo bonito, mas enfim, era o carro do Wilson Fittipaldi. O Emerson já estava de macacão, depois de uns 15 ou 20 minutos, com um largo sorriso, entrou no carro, falou com o Wilson e combinou três voltas lentas e uma parada no box  para uma revisão no estado do carro.

Ao lado de Emerson o Ricardo Divila e lá atrás certamente uma daquelas cabeças é a do Cuca.

Emerson foi para a pista e fez a primeira volta pelo anel externo, bem lentamente. Passou na frente dos box, a uns 150, 160 km/h, entrou na curva "Um" sem frear e um enorme barulho de pneus cantando tomou conta do autódromo, ai começou o drama. Wilsinho gritou:
-Ele rodou...
Eu estava ao seu lado e disse:
-Não, ele esta entrando na "Dois"...
Emerson deixou o carro rolar na "Dois", "embicou" o F6 no retão e acelerou a barata a fundo.
Aqui, vale um adendo: o F6 tinha uma particularidade, os escapamentos virados para a frente do carro e saiam na lateral do F6, isso dava um ronco muito característico ao F6, pois o som saía pelas laterais e batia nos guard rails e produzia um som muito alto e embolado, que o Emerson depois disse não gostar, e não era para gostar mesmo, pois o som não era bonito, era assustador, fazia o autódromo parecer pequeno.
Enfim, o Emerson acelerou e fez a "Três" e "Quatro".  A esta altura, o Wilsinho, eu e um monte de gente já estávamos na grade do "Laranja". O Emerson saiu da quatro e desacelerou. e "chacoalhou" o caro de um lado para ou outro e enfiou o pé no acelerador novamente, rumo a "Ferradura". O Wilsinho já perguntava em voz alta:
-O que ele esta fazendo ? Tem alguma coisa errada...
Emerson veio pela reta que antecede a "Ferradurra" rápido e mandou o F6 para dentro.
Chego a me arrepiar quando lembro...O carro chimava, gritava os pneus, e o Rato segurando o bicho com um cavalo bravo... Fez a "Ferradura", e novamente desacelerou, mais uma vez,"chacoalhou" o F6 e pé em baixo. Subiu o “Lago“, "Reta Oposta", "Sol" e "Sargento" e a bota em baixo, urrando ele passou pelo "Laranja", o F6 parecia um Kart saindo nas quatro rodas. Wilsinho de boca aberta só disse:
-Que é isso...
Emerson freiou forte na entrada do "S" e fez o "Pinheirnhho", "Bico de Pato" e "Mergulho" muito devagar. O Wilsinho disse já se mexendo para voltar para o boxes.
-Ele vai parar...
Enquanto caminhávamos para os box, ouvimos o assustador ronco do F6, corremos em direção a mureta dos boxes, quando chegamos, Emerson vinha saindo do "Café" de pé em baixo. Foi o tempo de debruçar na mureta e o F6 passar num pau...Wilsinho colocou a mão na cabeça e gritou:
-Ele é louco, ta querendo se matar...
O F6 entrou na curva "Um", chimando e reclamando,fez a "Dois", "Retão", e nós, mais uma vez corremos para  a grade do "Laranja".

O que posso dizer, é que o F6 virou um Kart na mão do Emerson. Ele veio em direção a "Ferradura", numa tomada muito "doida", e mandou fundo, o F6, malcriadamente, jogou a traseira, Emerson só deu um toque no volante, e fez a "Ferradura" em uma espetacular derrapagem controlada, com se estivesse andando num carrossel...Nunca, na minha vida, vou esquecer da posição das mão do Emerson, tranquilas e firme...somente segurando o volante com toda a "finesse" que lhe era característica. Bom, o F6 subiu o lago,"Reta oposta", "Sargento" e passou diante dos meus olhos no "Laranja", saindo nas quatro, como se costuma dizer, mas totalmente na mão do "Rato". Ai aconteceu algo inesperado. Ouvi muita gente gritando,: "Sai,sai,sai". Quando olhei, vi que um desavisado jardineiro, estava atravessando a pista logo após a curva do "Café". Wilsinho estava tão concentrado no irmão, que nem percebeu o que estava acontece. Para piorar, o cara parou no meio da pista e ficou a perguntar o que estava acontecendo. Felizmente, um bombeiro foi lá e o retirou da pista, mas até hoje me pergunto, o porque teria um cara tão desavisado, num dia de teste de um F1, com aquele enorme barulho, entrar com um trator no meio da pista ?


O Emerson vinha acelerando até a entrada do boxes, onde deu um violenta freada, o que fez a carenagem do F6 voar longe...Entrou no box e parou no meio da pista. Cabeça baixa, tirou as luvas, desafivelou o capacete, e olhou fixamente para o irmão, que tinha acabado de sentar no pneu dianteiro do lado esquerdo. Com o dedo indicativo, Emerson fez um sinal de "vem aqui" para o  Ralph Bellamy  e disse:
-Tem algo de muito errado neste carro, ele não faz curvas, quase me jogou em cima do muro na primeira volta.
 Ralph Bellamy , perdeu uma ótima oportunidade de ficar calado, e disse que o problema era o Emerson que não sabia pilotar um "carro asa".
Neste momento, meus amigos, a coisa descambou um pouco, mas o que vi, foi o Emerson, calmamente, soltar o cinto de segurança, descer do carro e colocar a mão no ombro do  Ralph Bellamy , mas não numa atitude agressiva, o que eu acho é que o Ralf se assustou e foi andando para trás, até encostar na parede, ai sim, com dedo em riste, o Emerson falou:
-Nunca mais diga que eu não sei pilotar um formula 1, Respeite ao menos meu bicampeonato.
O mais incrível, é que isto aconteceu em dez  ou vinte segundos, e que o Wilsinho partiu para cima do Ralf, e o Emerson que fez  "deixa disso..."
Passado isso, Reginaldo Leme vai entrevistar o Emerson.
RL
-Emerson, dá para pensar em vitórias este ano.
EF
-Olha, foi só um teste para ver se estava tudo bem com o carro, eu não conheço o carro, o carro também não me conhece, mas vamos ver, vamos tentar.
Emerson pula para dentro do box, eu rato que era pulo atrás e me escondo atrás de uns pneus empilhados. Logo chega o Wilson e baixa a porta dos boxes, não sei para que, pois eles eram totalmente vazadas. Olha pro Emerson, e com um pontinha de esperança pergunta:
- E ai ?
Emerson responde:
-Não anda e não vai andar nunca, jogamos três milhões de Dólares no lixo, o carro parece uma banana assada de tanto que torce quando tenta fazer curva...
Lembro bem do Wilsinho passar a mão entre os cabelos e perguntar:
-E agora ?
Emerson responde:
-Agora, você leva tudo embora que eu não piloto mais esta encrenca.
De macacão, Emerson deixa os box pela parte de trás, entra na BMW do Wilsinho e sai acelerando...Wilsinho com as mãos nas cadeiras, lentamente move a cabeça e olha fixamente para mim. EU não estava lá, ele não me viu, tinha coisas mais preocupante a pensar. Barulho da porta e entra Divilla no box:
-Cadê o Emerson?
WF
-Foi embora...
Wilsinho, lentamente um movimento de meia volta e para....
-Porra, ele foi com o meu carro....

Cuca

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Conheci o Cuca no ano de 1972. Com 19 anos para tentar seguir carreira sem o apoio de meus pais fui trabalhar com o Expedito Marazzi. O Cuca uns 9 anos mais novo era e é amigo do Gabriel, filho do Expedito  e os dois ficavam por lá nos perturbando, sentavam nos carros, faziam mil perguntas enfim verdadeiros Ratos de Box.
Obrigado meu amigo Cuca e um abração 


Rui

Fotos; Quatro Rodas, a reportagem na QR Digital de Fevereiro de 1979.