A VERDADE NÃO SERIA BASTANTE PLAUSÍVEL SE FOSSE FICÇÃO - Richard Bach
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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

FLEXA AZUL







" O que significam 6,851 segundos na vida de um piloto de competição, quando ele está na boléia de um carro dragster? Praticamente tudo.
O que faz, o que sente, o que passa pela cabeça de um piloto de dragster com motor de terrível cavalaria quando ele está em plena arrancada, correndo o risco de se arrebentar contra um muro? Será que ele tem tempo de sentir medo? É isso tudo que vamos saber, conversando com o mais rápido piloto de dragster do Brasil, o sempre atencioso paranaense de São José dos Pinhais - Maurício Debarba - que, em pouco mais de 6 segundos leva o seu dragster flecha azul do começo ao fim dos 402 metros da pista de cimento do Autódromo Internacional de Pinhais, a mais de 400 quilometros por hora.

UM RITUAL

A arquibancada lotada, sob sol causticante. Todo mundo impaciente, gritando, louco para ouvir o troar produzido pelos oito canecos do veoitão do dragster azul, envenenado até no certificado de propriedade. O apresentador oficial do espetáculo chama os pilotos de dragster, para entrarem na pista. Nessa altura, Maurício, a partir do seu box, olha o povaréu se espremendo nos degraus da arquibancada, ansioso para ver o espetáculo proporcionado pelo ronco do motor e queima de pneus, do qual ele é o artista principal.
Coloca então o seu macacão especial da marca Simpson, com três camadas de Nomex anti-chama, o seu capacete de Kevlan mais resistente do que aqueles de pilotos de Fórmula 1, a pescoceira para proteger sua coluna vertebral contra choque, o travador de braços, também da Simpson, ligado ao seu macacão e amarrado no cinto de segurança (para manter os braços na posição correta), o cinto de segurança de 5 pontos (Simpson), a sapatilha e, por cima desta, a bota que vai até o joelho, anti-chama também.
Maurício é católico e, leva uma cruz colada no seu capacete, além de uma medalha de ouro, com a imagem do Anjo da Guarda, afixada na parte de trás do seu macacão. Acomoda-se na boléia do carro, uma verdadeira gaiola sentado em cima do baita diferencial. Aí então ele faz uma prece, pedindo proteção para si e para os outros pilotos. Está completo o ritual. Está pronto para arrancar.
Começa o espetáculo, para delírio do público. O motor do dragster é acionado. O apresentador anuncia. Jogam água no cimento quente da pista. Maurício sai devagar, até que os pneus traseiros do carro atinjam a parte molhada da pista e, então, repentinamente, muitas vezes pegando de surpresa os espectadores menos avisados, que se assustam, acelera o motor violentamente, num barulho ensurdecedor. O dragster sai patinando e queimando a borracha dos pneus, na sua falsa arrancada.
O piloto traz o carro de marcha-ré e alinha-o no ponto de partida. O motor gira na lenta e todo mundo que está próximo começa a tapar os ouvidos. Concentração total para não perder o tempo certo. O mundo lá fora é esquecido. Maurício só olha as luzes de sinalização e a reta à sua frente. Mas, ele nem chega a observar a luz verde, que é o sinal para arrancar. Acende a luz branca, depois a amarela e, desta para a verde, são apenas 500 milésimos de segundo. Aí ele ergue o motor para 5.000 giros. Momento seguinte, solta o freio e a embreagem, no pé, juntos, com apenas uma mão no volante. O dragster arranca patinando e já na primeira marcha, atinge a 180 quilometros por hora. Quando o motor atinge a 7.000 giros, Mauricio aciona um botão, no volante, engrenando a segunda marcha. Já na metade do trajeto, por volta dos 3 segundos, o carro está a 300 quilometros por hora.
O piloto não vê nada passar dos lados da pista. Com o rabo do olho, observa o concorrente. Não há tempo para nada. Ele não sente medo. Apenas acelera e procura manter o carro em linha reta. É tremenda, nessa altura, a força que o empurra de encontro ao banco do dragster, chegando ao nível 3G ou, 300 quilos. Quatro segundos, cinco, seis. As coisas passando cada vez mais rápido e, o carro cruza a linha final, numa velocidade de 113 metros por segundo, como se fora um foguete.
Imediatamente Maurício aciona a alavanca que solta os dois para-quedas de freio. Desacelera e, pucha a alavanca manual que aciona o freio, com quatro pinças em cada rodá traseira. Mas, aí começa outro ponto crítico, pois, quando os para-quedas abrem, ocasionam uma força também de nível 3G, mas, em sentido contrário, contra o corpo do piloto. Este dispositivo é a alma do negócio, pois, sem ele, o carro completaria toda a reta e poderia bater no muro, no final da mesma.
Bem lá atrás, a cerca de 600 metros, o povo olha o painel que acusa a performance do carro e, exclama: Uh! O tempo foi de 6,851 segundos e, a velocidade, de 407,02 quilometros por hora. O espetáculo terminou, mais uma vez. Agora, olhando para cima, Maurício apenas agradece a Deus!"

Mais um belo texto de meu amigo Ari Moro , publicado em seu jornal "Cheiro de cano de escape " nº 3 . Valeu Ari !